quinta-feira, 14 de junho de 2012

Registro do dia 16/04/2012 (Thamata)

Depois de algumas semanas pensando em fazer o registro, senti que chegou a hora. A Carol, nossa nova companheira fez o último registro do encontro (por sinal o seu primeiro encontro com o grupo) e a atitude dela talvez tenha dado o último impulso que eu precisava.

Cá estou, vamos lá! Voltando para a segunda feira, 16 de Abril de 2012.

Cheguei ao CCJ atrasada e um pouco irritada com situações ocorridas nos coletivos urbanos que levaram até lá, coisas de praxe (um aperto aqui, outro ali, uma parada para aguardar a movimentação do trem à frente e assim vai...). Bom, mas lá o coletivo é outro e logo o humor foi voltando ao normal, no bom sentido. Já tinha começado nossa meia hora de reunião para falar de assuntos relacionados aos postos (biblioteca, recepção, internet livre), cada equipe num canto. Fui me aconchegando junto a turma da biblioteca. Os assuntos estavam bem adiantados. Falamos mais algum tempo . Voltamos a roda completa. Senti falta de algumas pessoas e vi uma cara nova, não sabia seu nome, mas tinha certeza que era o novo educador, logo menos falo mais dele. A Ângela trouxe uma dúvida: O tempo de meia hora tem sido produtivo para todos os grupos? Identificamos que os assuntos relacionados à biblioteca demandam mais tempo de fato. O grupo tem mais integrantes e por consequência nos desencontramos mais durante a semana. Em resumo, continuamos com a meia hora sempre que necessário e surgiu uma ideia muito boa de usar parte desse tempo para falarmos também de coisas do interesse de todo o grupo. A Mary aproveitou a deixa e começou a falar de uma visita monitorada com uma turma de franceses que ela e a Érika haviam feito naquela semana, e que apesar das dificuldades de comunicação e tendo sido pega de surpresa no dia, deixou claro que foi bem interessante e contou de forma bem descontraída todos os ocorridos. Um suspiro para uma palavra: DISPOSIÇÃO.
O assunto “visita monitorada” tem chegado em nossos encontros algumas vezes e de formas variadas, é uma atividade que tem pedido atenção e que falta muito para chegar num ponto de sentir ela com propriedade, eis aí um desafio. A Mariana e a Ângela falaram de momentos cômicos e comuns que aconteceram durante as visitas que elas fizeram vida a fora e eu fiquei ali pensando que é isso aí: a segurança sobre determinadas ações nos permite encarar com mais leveza, mesmo quando as pernas tremem e você quer fugir. Eu ainda não cheguei nesse ponto, mas quero. Uma boa notícia: O novo educador, Felipe, chegou também para ajudar nessa atividade.

Qual será a história do nome e o livro que marcou um momento da vida da Mariana, da Carol e do Felipe? No começo isso era boa parte do pouco que sabíamos um do outro. Sinto que muita coisa mudou.
Chega a hora do Bruno apresentar sua correria, preenchida pelo Entre Becos e Vielas, um projeto de ocupação no bairro em que ele mora. Pelo que entendi, o intuito é gerar atitudes coletivas de cuidado com o bairro, de forma que todos sejam beneficiados, como a simples atitude de não jogar lixo no chão, por exemplo, e ao mesmo tempo uma apropriação do espaço de forma positiva e produtiva, firmados através de eventos envolvendo arte de rua (música e grafitt). Os eventos que rolaram até agora deram super certo e a comunidade abraçou a ideia. Uma matéria feita pela Rede Globo para o programa Criança Esperança meio que se apropriou da ideia do projeto e isso deu uma desmotivada no Bruno, mas nada como “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”. Logo mais, terá outro evento e estamos todos convidados, eba! Gostei muito da correria do Bruno, principalmente pelo caráter espontâneo. Lembrei de um momento em que o Bruno respondendo a uma pergunta da Ângela disse que a potência e a arte do projeto estão naquele momento do evento. É isso aí, la na ladeira da viela tem gente fazendo, sentindo e vivendo. Não pára não Brunão!

Lá vamos nós para o aprofundamento da cartográfica dos desejos. Isso, “desejos”, no plural. Será que somos todos um? Ou somos todos uns? Vejo a cartografia como algo que é nosso, como uma das primeiras formas do grupo mostrar o que quer e de transformar esses desejos em ações, ações de UM grupo.
O que é cultura? O que é arte? Espaço público x espaço privado. O que é ser Jovem? Jovem mediador, Programa Jovem Monitor e assim vai. Temos muita coisa para fazer, muito para absorver e aprender e que acredito que irão auxiliar em práticas. Rolou uma conversa a respeito, fizemos algumas sugestões, tiramos dúvidas e ficamos de trazer sugestões. O encontro da próxima semana já será baseado nesse aprofundamento.
Hora do almoço, super fome!

Na volta, um baita texto sobre Ação Cultural do Teixera Coellho nos esperava sob a mesa. Ah, tem também um regador azul, cheio de ar. A Ângela sugeriu que um voluntário fizesse algo com ele, de repente o que achássemos que ele estava pedindo. Eu fui enchê-lo de água e a Ana na seqüência começou a regar algumas plantas da biblioteca. Na hora esqueci de perguntar se a presença do regador tinha algum significado especial. Pela presença dele, pelo tamanho da mesa, e pela forma como nos sentamos tive a impressão que o grupo nunca esteve fisicamente tão próximo como estava naquele momento. Começamos a leitura do texto. Ele é extenso e aquela querida leitura fragmentada com intervenções de uma na leitura do outro não cabia. Fizemos uma leitura continua e depois conversamos algum tempo sobre o conteúdo ali abordado. Deu boas discussões e o texto de fato, é muito bom. Gosto da ideia de lermos o texto antes do encontro, ajuda a fixar mais o conteúdo e colabora para as conversas.
Fechada a conversa sobre o texto, a próxima atividade sugerida foi sairmos pelo entorno do CCJ e entrevistarmos pessoas afim de saber um momento da vida dela em que uma ação cultural tenha sido marcante. Antes de ir, rolaram alguns questionamentos sobre ir ou não, a finalidade, os porquês e enfim, VAMOS! Formamos duplas e trios e saímos. De cara, quando saímos (A Natame, a Mary e eu), encontramos dois freqüentadores que estavam no portão, um deles nós já conhecíamos. Eles não sabiam que o CCJ estava fechado. Perguntamos se eles topavam ser entrevistados e eles disseram que sim. No final das contas, conseguimos mesmo falar só com um dele, o mais falante: André. Tem 14 anos, gosta de esportes e um momento de ação cultural marcante em sua vida foi quando seu time de futebol da escola ganhou um campeonato e ele foi o artilheiro, com 32 gols. Ele acha que deveria ter atividades esportivas no CCJ e uma quadra. Depois disso, voltamos ao CCJ e cada grupo contou como tinham sido suas entrevistas. Em resumo, acho que falamos com muitas pessoas que não freqüentam o CCJ ou que conhecem o espaço, mas considera que ele não supri as suas necessidades, que são outras, esse lugar do elefante branco não supri suas necessidades. Um outro disse que quer pintar tudo aquilo ali de vermelho. Hoje, 22 de Abril. O dia está cinza, amanhã tem encontro no Tomie. Eu preciso terminar meu registro, mas não consigo. Acho que quero pintar ele todo de verde. Fim.


Dia 4 de junho de 2012.
Instituto Tomie Ohtake, São Paulo.

Dez e quinze da manhã, o encontro tem início com o grupo ainda incompleto. Hora dos recados iniciais: Joana anuncia a entrada de um novo membro, Fernando. Completa que no processo seletivo deram preferência a um homem, já que, “as mulheres desse grupo são muito fortes”.  Somos comunicados também que o Markito virá ao encontro no fim do dia, pois viu necessidade a partir de conversas com a Joana. Ela adianta alguns assuntos como: “É função do espaço público qualificar o acesso à internet?”. As pessoas que faltavam vão chegando aos poucos e puxando uma cadeira. O próximo assunto é a programação dos monitores que em ano de eleição encontrará alguns problemas como a falta de verba. A solução imediata é que façamos algo “pontual e potente”. Bruno questiona a falta de grana e quer um nome pra isso, ouve como resposta “Descontinuidade política” e todos concordam que devemos discutir isso no dia dezoito. O DIA DEZOITO. Aos poucos vamos nos lembrando de uma série de tópicos que poderiam ser discutidos nesse dia e ele vai se tornando importantíssimo.

Rodrigo lê seu registro e provoca risos no grupo ao nos lembrar da apresentação da correria do Mateus. Finaliza com “um leve gosto de frustração na boca”. Como era de se esperar, tal frustração é o ponto que pega o grupo no momento pós-registro. Joana fala algo sobre potência do corpo e Thamata diz que o “corpo deve se sentir à vontade” e Gisele questiona a atitude de “forçar um encontro”. Tudo isso traduz a minha reverberação após a atividade dos encontros.

Danusa e Thamata falam sobre as atividades promovidas com as crianças no CCJ, discute-se a necessidade de reuniões anteriores à tais atividades e visitas, conclui-se que devemos nos reunir para ativar a criatividade. Willian põe na roda que os Gestores dão pouca importância para atividades com as crianças, mas não dá nome aos bois. Passamos um tempo falando sobre tais atividades e noto que temos feito isso em quase todos os encontros, não dando espaço para outras coisas que acontecem no CCJ. Lembro-me da “força das mulheres” citada no início do encontro. Enquanto isso tudo é só um pensamento meu, sou surpreendido com alguém dizendo exatamente o que eu sentia sobre essa falta de espaço. Angela lembra que devemos retomar os assuntos do registro do Rodrigo e falamos sobre como o tempo reduzido, corrido, é um problema nos nossos encontros.

Para aquecer a conversa que estaria por vir, assistimos a um vídeo com a Suely Rolnik, onde ela fala sobre inteligência, potência, Nietzsche, professor submisso, aluno submisso valorizado, arquivo morto, canalização, mercado, representação, arte, pedofilia, capitalismo, cafetão e puta. Hitler, o outro e o forno. Algumas das últimas frases do vídeo são “Por que eu tava falando isso?” e “A vida não acaba”. Ouvindo e vendo as impressões do grupo, notei que tanta coisa criou expectativa.

O assunto posterior ao vídeo é capitalismo, mercado e arte e de alguma forma estamos falando sobre equação de segundo grau, quando a Suely entra na sala. Se desculpa pelo atraso e já inicia a conversa nos questionando sobre o que mais nos incomoda e inquieta, em qualquer aspecto da vida. O grupo ri quando a Suely, no meio de tantas reflexões, diz que a Joana está vestida de princesa. Falamos sobre traumas, preconceito de raça e classe, universidades e voltamos ao assunto: Joana vestida de princesa, Mari completa: Princesa de coturno. Ao voltamos para a questão inicial, Bruno comenta: “Centro Cultural não gosta de pobre” e logo define “pobre” como “quem sofre descaso”. Willian trás sua inquietação: Não se identifica com nada. Logo o William é o centro das atenções e comenta rindo que está se sentindo estuprado e que todos sairiam do Tomie chorando. Natame diz que se sente mal e pressionada na Universidade e Willian completa: “TCC é um vômito”.

Pausa para os cigarros da Suely e do Bruno.

Voltamos com a Thamata se abrindo: Vê hoje uma vida que já estava com ela e que não tinha dado vazão. Se incomoda com as pessoas sendo levadas por padrões. Ouço o desabafo e me surpreendo com a carga emocional, sensível e sincera das palavras.

Suely apresenta o “dentro e o fora” da “fita” com suas caracteríticas e definições, contextualizando-as a partir dos desabafos.

A princesa da vez é a Natame, agora não se fala em coturno, mas em uma japonesa abandonada na selva.

Angela interrompe e dá voz ao Felipe que diz não se sentir à vontade para expor o “saber do corpo”, por medo dos outros corpos. Suely lembra que a colonização neutraliza o saber do corpo. O capitalismo, a subjetividade burguesa, o estado e a cisão do ponto de interrogação.

Alguém trás o cristianismo para a roda e a Carol traz o Candomblé que se relaciona com o saber do corpo. Danusa interrompe. Está com fome. 14:30. Aplausos.

Almoço.

Voltamos com a apresentação da correria da Danusa: Aldeia do Futuro, Corafro (grupo de canto coral), projeto Aiuá – Mulheres Cantantes, Coral Esperança do Mundo, mais dificuldades com a Universidade, Centro de Desenvolvimento Comunitário, Coral Filarmônico Ikeda do Brasil, Sonoplastia, SP Escola de Teatro, Canto na ETEC; Algumas gravações no estúdio do Mateus que a Suely diria que foi um “encontro alegre”.

Enfim o encontro com o Markito: Resgatamos a discussão da semana anterior e os pontos são basicamente os mesmos. O encaminhamento dessa vez é: Uma hora por dia para oficinas na Internet Livre. Ainda devemos discutir a situação do Laboratório de Pesquisas, mas precisamos da presença da Melina.

Mais aplausos e o encontro termina aqui, mas não pra todos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Registro, tentativa número 1

Segunda-Feira, 19 de março de 2012, 10h30min AM.

Depois do Luiz, o registro parece ter virado um momento de disputa de criatividade. Quem dá mais? Não é que isto seja ruim, mas parece ter tomado esta proporção. Justifico desta maneira a minha ausência de “criatividade” ou a minha “criatividade”. Venho por meio destas palavras escritas no papel registrar ou relatar o dia dezenove de março de dois mil e doze.
Mais uma segunda-feira. Mais um encontro da formação, desta vez no CCJ, e mais um registro a ser lido e escutado. Cheguei e a roa já estava formada, o início estava em atraso e necessidades técnicas estavam sendo resolvidas. O responsável por registrar o encontro anterior era o Willian, e o seu relato, como chamou , veio de forma a surpreender. Não tinha papel na mão, e a sua voz saia de sua garganta naquele momento. Era um vídeo e sua voz havia sido gravada em um aparelho gravador. Luzes apagadas, e todos de olhos e ouvidos atentos para ver e ouvir o relato do Willian. Ele nos falava objetivamente como havia sido o encontro passado e fazia inferências com seus pensamentos, além das inferências vsuais do vídeo. Era algo ao mesmo tempo conectado e desconectado. Enquanto a sua falava, a imagem na tela era preenchida cm informações escritas num caderno, a fala não era provinda da imagem era uma espécie de música ou sonorização, era como se houvesse um narrador num filme mudo. Horas as coisas se encaixavam e horas não. Muitos questionamentos apareceram inclusive alguns que haviam sido levantados pela Mari em seu registro, um deles perguntava: Qual é o nosso ideal?
Foi uma questão sem resposta, e que volto a indagar, pois talvez tenha que haver uma resposta para tal coisa. Portanto, falemos do ideal. Do dicionário, I.DE.AL: adj2g. 1. Que existe somente na ideia; imaginário. 2. Que reúne toda a perfeição concebível. 3. O que é objeto da nossa mais alta aspiração. 4. O modelo sonhado ou ideado pela fantasia dum artista.
Sei que não sabemos racionalmente qual o ideal do grupo, mas me lembro de lá no começo a Angela trazer a fala: Qual é a cara do grupo? Talvez descubramos aí por aí qual é o tal do ideal, e que este não seja somente aspiração, imaginação ou fantasia, como diz o dicionário. E com isso eu “linko” outro apontamento que também apareceu lá com a Mari e que o Willian retomou de outra maneira, que é a tal da roda do Tomie girando, e disse ainda que infelizmente ela não gira pra todos e que se girasse talvez muita coisa mudasse. Pra mim, a roda do Tomie gira, e gira, e gira, e gira, e gira...e aí dói a cabeça, dói a barriga, e a gente fica tonto...e no fim o que a gente faz com a coisa toda que rodou? Sei lá, vira um chão inteiro sujo de palavras vomitadas e que depois a gente vai passar o pano e deixa-lo limpo. Vários outros questionamentos estavam presentes no relato do Willian, mas não me convém falar, acho que não me interessaram tanto para retomá-los, perdoem-me por isso. Vou agora para o fim de suas palavras, que diziam assim: Fecha os olhos para um pouco, e ouve o que os rios têm pra dizer. Foi um belo jeito de terminar, e durante a conversa sobre o relato surgiu da outra Mari a comparação da voz calma e ralentada do Willian, com os rios, como se ele fosse o tal rio que nos dizia tudo aquilo que paramos para ouvir. Acho que conheci um pouco mais do Willian. Durante a discussão sobre o que ouvimos e vimos, finalmente veio à tona algo que intrigou todo o grupo durante duas segundas-feiras, a fichinha de avaliação que eu encontrei na recepção e que todos viram. No vídeo o Willian disse: Por alguns motivos a parte eu não consegui parar de pensar antes da discussão no grau de liberdade que temos para nos expressar aqui dentro. Uma anotação, um lista, uma tabela...Será que existe um big brother? E aí e veio o Felipe e falou que não tinha entendido o que quis dizer com isso de bbb. E o Willian se enrolou na fala dele, a Angela começou a explicar como funcionava a avaliação, todo mundo se olhando com cara de nós já sabemos de tudo isso e aí o Daniel interrompeu a Angela e disse que ia falar que todos já sabiam. E aí eu, por ter encontrado a ficha, expliquei exatamente como tudo começou, e esclarecemos que não havia sido proposital, que foi tudo acidente, e ficamos todos felizes e aliviados. Depois do falatório todo sobre a tal ficha de avaliação e da discussão sobre o relato do Willian, fomos a preparação da “oficina-atividade-proposta” do grupo do Tomie, Angela, Mari e Jo. Tudo pronto, fomos para o espaço de convivência, formamos outra roda em volta de algumas coisas no chão. Tinha uma caixa de papel, uns papeis e uns tubos de papelão e ao lado  Mekhamóbile. A o começou a oficina lendo um trecho de um livro chamado “Modos de Ver”, eu queria ter anotado alguma coisa sobre a leitura, mas eu não estava com meu caderninho. Depois partimos para outra leitura, desta vez todos liam e quem quisesse podia pegar a fala do outro numa respiração, ou pausa qualquer. Comecei a ler, era um texto do Rubem Alves chamado “A complicada arte de ver”, numa provocação da Angela começamos a repetir frases, ou palavras que chamaram a atenção. Texto lido por todos, partimos para próxima proposta. A Mari nos explicou como funcionaria. Na caixa havia binóculos, lupas, caleidoscópios, óculos e outras coisas.  O que faríamos com aquilo tudo? Enxergaríamos com outros olhos. Escolhemos os nossos novos olhos e um círculo de E.V.A, e ganhamos um papel amarelo e um branco. Tínhamos de escolher um lugar do CCJ que falasse sobre nós, posicionar sobre o círculo de E.V.A os nossos novos olhos em direção a este lugar, escreve um pergunta no papel amarelo, e dar uma pista gráfica na folha branca. E a ideia era que juntos achássemos com aquelas pistas qual foi o lugar escolhido por cada um e olhar através do olhar do outro. Com os lugares escolhidos, partimos para ver, rever e transver cada escolha. Um barbante materializou o nosso caminho entre os olhares. Uma grande teia foi formada e conseguimos ver, e rever e transgredir a visão sobre o CCJ. Pausa para o almoço.
Voltamos, e agora era a vez da oficina do meu grupo. Eu estava bem nervosa e com medo de não dar certo, a proposta era passar um vídeo, brincar um pouco com o corpo e depois conversar sobre o vídeo. Dancem macacos, Dancem! é um vídeo que fala dos seres humanos como se fossem macacos, e critica fortemente a construção da sociedade humana. Depois de vermos o vídeo conduzi a atividade corporal que propunha encontra o macaco entro de si, eu fique com medo de todos ficarem com medo do ridículo, mas conforme a condução acontecia percebi que todos entraram no jogo e não virou um auê total, claro que houve a vergonha, mas deu pra brincar de ser macaco um pouquinho. Terminamos refletindo sobre poucas coisas do vídeo e mais exatamente da proposta corporal. A próxima oficina foi do pessoal da internet livre + internet da biblioteca que propusera, “aulas de digitação” o que foi feito foi mais uma apresentação de como seria feito a coisa do que uma oficina propriamente dita, ahei que o grupo encucou que todos já sabiam digitar e que seria um porre aprender o já se sabe, acho que faltou um pouco de fé na ideia e força para executá-la mesmo com quem já “sabia digitar”. Funcionaria assim, na internet livre seria um lugar teórico e técnico da coisa e na biblioteca seria um espaço para praticar o que se aprendia na internet livre digitando trechos de livros que um mediados traria e apresentaria para aquela oficina. Com um pouco de insistência a Natame nos cedeu verbalmente à história do Drummond que foi o autor do livro escolhido por ela para a proposta.
Depois foi a proposta do pessoal da recepção da biblioteca, que funciona mais como uma ocupação de um espaço. A ideia era ocupar o espaço sarau com uma instalação sonora de trechos de áudio-books e ambientalizar o lugar, o livro escolhido para a experiência foi “A menina que roubava livros” alguns trechos sobre o Diário da Morte, foi legal, tinha uma luz baixa, umas imagens, o áudio e os “sofás” que criaram aquele lugar do soninho, sabe? Foi isso um dos questionamentos levantados, de como não deixar aquele espaço se tornar mais um lugar para se dormir. Deram ideias de ter alguém mediando, de ter objetos, cenários, deixar a luz alta, não ter os sofás, outras coisas que poderiam funcionar. As oficinas todas rodaram e acabou o encontro do Tomie no CCJ. E a roda do Tomie Girou e mais uma vez, e saímos de lá todos tontos e enjoados. O pano já tinha sido passado no chão, e fica no ar a questão: Tudo não passa de aspiração???


Gisele Godoy de Freitas

sábado, 2 de junho de 2012

Dia 21 de Maio de 2012.


     Nossa, amanheceu e estou novamente em mais uma segunda feira... Potz grila. Que cansaço, estou todo dolorido, que fim de semana! Um fim de semana que nao sai da cabeça, um fim de semana feliz; o Autônomos ganhou todos os três jogos que disputou(o que é um tanto raro) e aconteceu uma festa de arromba na Casa Mafalda, estava lotada, estrumbando e nela estavam alguns convidados especiais; boa parte de meus novos amigos de CCJ, em um ambiente adverso ao que estamos acostumados a nos encontrar, num lugar que significa muito pra mim, foi uma loucura - é uma pena que eu não lembre muito do que aconteceu devido ao fluxo alcólico no decorrer da festa, mas isso já estava no roteiro e não me impediu de fazer as atividades do dia seguinte(domingo)... É, lembrei por que está tão dificil de execultar o "salto mortal" - é assim que eu chamo o pulo que eu dou todos dias da cama de cima da minha beliche até o chão - aterrizagem segura apesar da dor, o que nem sempre acontece. Bem... Estou pronto para o dia, destino: Vergueiro - Centro Cultural São Paulo.

     Após o trajeto até a Vergueiro pelo subterrâneo da métropole caótica, me deparo com Bruno logo na entrada do CCSP. Cigarro acendido, tragada vem tragada vai e chegam juntos o Daniel e Rodrigo. Nem lembro como tinha sido a última e única vez que tinha entrado no CCSP. Após passarmos confusamente em meio aos corredores de vidro do espaço, finalmente encontramos mais alguns dos outros companheiros de Tomie. Aos poucos o restante vai chegando e não demora muito para que a festa ocorrida sábado a noite na Mafalda se tornasse o assunto principal da galera; risadas e relatos ajudam a refrescar minha memoria e alguns relatos apenas constataram que o apagão da minha memória foi maior do que eu imaginava... Que merda! Que vergonha! Como pôde ter acontecido tanta coisa e eu não lembrar nada?! Maldita vodka.

     Com a chegada de quase todos os membros da nossa formação cultural nos unimos em uma roda ao ar livre, sol agradável, árvores e o chão; bancos são dispensados, mesmo denunciada as marcas de bombardeios aéreos das cagadas brancas dos pombos nós nao hesitamos em sentar e começarmos ali mesmo a nossa conversa daquele local escolhido para a visita. 
- Opá, aí não pode sentar.. 
Diz o segurança, nos alertando que estávamos sentados na faixa especial para orientar deficientes visuais. Ufa, é só isso, nada demais, que bom. Iniciamos o papo falando da visita da semana passada(se não estou enganado)no museu Lazar Segall, sobre o CCSP e como seria conduzida nossa visita. Trocamos ideias de nossas experiências que tivemos no CCSP; só tinha ido uma vez com a escola há muito tempo, porem tenho uma recordação muito apagada de como foi esse dia - que foi apagado com o tempo e não com a vodka do fim de semana hehe. Risadas entoam quando lembro que passava muitas vezes em frente do CCSP a caminho da casa da vovó e imaginava que aquilo fosse um estádio de futebol, não um centro cultural; nao falei mas meu irmão tem parcela de culpa nessa observação "futecentrista", ele viajava mais do que eu. Poxa vida, lembrei da minha vó... Pô, que lugar legal, bem entrelaçado com a cidade, um lugar possível de entrar e nem perceber do que se trata.

     Ai minha pernas! É hora de levantar do chão e formarmos outra roda com os educadores do CCSP, agora com cadeiras e teto. Ao contrário do que havia acontecido no Lasar Segall a conversa foi mais estimulante e houve interação dos presentes. Por se tratar de um espaço com algumas semelhanças ao CCJ tornou-se bem facil discutir algumas questões cotidianas como o "ponto fixo", o que fazer? Luciano do CCSP diz em explorar as zonas mortas do local(?), como fazer acontecer mudanças com um tempo de serviço já pre-determinado? E a sinalização do espaço com o entorno? Como melhorar essa comunicação? Quais sao os nossos limites como monitores? Somos educadores, mediadores..? O que é ser educador ou mediador em um centro cultural? E a política disso tudo? Como ela nos atinge? Esta ultima me desanima as vezes quando penso muito, o mercado é quem dita esta política, a terceirização de serviços públicos(não só na cultura) e bancos administrando diversos espaços da cultura são reflexos da dominação mercantilista  sob a política pública, isto dificulta e trava as articulações de transformações nesses espaços; mas claro, devemos sempre explorar nossos limites, creio que seja com insistência que descobrimos brechas para por em prática ações que desejamos, enfim... Esta questão é praticamente inesgotável... 
     Ufa, hora do almoço. Na hora certa, a fome já estava batendo e eu já estava dispersando da conversa. 

    Pegamos nosso rango e decidimos comer no terraço. Um vasto pedaço de grama em meio concreto, asfalto e aço acolhe agente, o sol permanece agradável e todos se sentam na grama para saborear o almoço - menos Mateus que tem medo do sol e apareceu somente depois de comer. Reflito com o Bruno, "pô, esse lugar aqui é muito louco, mesmo com o barulho dos carros e das obras na calçada né.." é incrível como qualquer pedaço verde em São Paulo se torna um espetáculo, deveria ser totalmente normal espaços como este... E ainda chamam urbanização de progresso. Na segunda metade do intervalo um dos monitores/educadores do CCSP(no qual esqueci o nome) sobe no terraço onde estávamos e puxa alguns assuntos referente a nossas "correrias", bem bacana essa aproximação. Depois o mesmo conduz a visita junto de uma companheira de trabalho, juntos deles todos nós percorremos pelos espaços do Centro Cultural São Paulo: A administração, um ambiente espaçoso e confortável com um enorme jardim; depois passamos pela biblioteca, é gigante, dezenas de estantes, palco com platéia, exposição... Ao entrar descemos por uma rampa em meio ensaio de alguma ópera, na qual aplaudimos enquanto caminhávamos - deve ser mesmo muito difícil cantar assim mas Ô COISA CHATA hehe. Fomos também a uma horta com alguns pezinhos de sei lá o quê que ficavam no enorme gramadão do terraço com visão pra 23 de maio, nos contaram das dificuldades que tem em manter a modesta horta, atividades que ocorrem no gramado, até sugestões de como desfrutar do espaço. Escolhemos ali para tirar uma foto e dali partimos para o subsolo, lá vimos uma quadra dos funcionários camuflada no meio do estacionamento, uma sala com um monte de coisas para os funcionários "fazerem arte", zoar, ou como o próprio monitor disse, "pirar" e a salas dos operários, a linha de produção do CCSP, máquinas que eu nunca tinha visto, prensas, papeis, flyers, cartazes e etc. No lixo uma papelada desperta a atenção e interesse de alguns de nós, um monte de papel diferente, detalhes, faixas simetricamente cortadas...Toda aquela bagulhada passa a dar ideia de criação e acaba ganhando vida para alguns, como a Mari, a Thamata, a Natame e sei lá mais quem... Legal.
    Bom, se me lembro da ordem dos fatos os monitores se despedem e encerram a companhia após sairmos da "fabriquinha", foram bem gente boa. 
    
    Em alguma sala do subsolo voltamos a nos formar em roda para conversarmos sobre a visita, pelas caras e conversas parece que agradou a todos apesar de alguns(como eu) esboçarem cansaço. Queria ter conhecido o mito do CCSP citado pela Angela, a "mulher tatu", lenda viva que mora lá em algum buraco misterioso... Sinistro. Gisele então começa a apresentação de sua "correria" e a historia de fatos que marcaram sua vida e influenciaram na formação de seu caráter, seus ideais e etc. Muito disso eu já conhecia das conversas na recepção em diversas tardes pacatas do CCJ, em que eu procurava um lugar fixo para ficar na ausência de ter o que fazer e ter aonde ir; foi legal ver a apresentação, a simplicidade com que foi feita, a frieza dela em se expressar frente a todos as suas particularidades e peculiaridades... Destaque para as fotos nao-digitais passada a todos de mãos em mãos, belas fotos. Uma camarada que admiro muito. É nóis, Gi. 
   Após os aplausos e perguntas para a Gisele, Daniel começa a ler o registro da visita de segunda feira passada no Lazar Seagall, discutimos mas sem muitas prolongações...Minha mente já está longe, que cansaço... Pelo jeito não só eu que estou nesse clima e então somos vencidos, passeio encerrado pela fadiga. Apresentação da Mari que iria ocorrer fica pra próxima segunda. Cansamos.. mas não o suficiente para evitar a galera de dá uma "botecadinha" final. Tchau CCSP, olá bar...