São Paulo, 03 de Setembro de
2012.
São Paulo, 10 de Setembro de
2012.
Crônica de Morte e Vida
O dia está azul e quente e sorri de
forma singular para ti meu caro. Sua luta mal começou, porém o que você mais
desejava está contigo novamente: a sua fé na vida. Que nela você encontre os
seus próprios caminhos e descubra o quão bom é viver!
Queria lhe dizer senhora que tenho muitas perguntas
para você, contudo o meu chamado por ti foi, para antes de tudo, que me ajude a
elucidar o que aconteceu na segunda do dia 3 de Setembro de 2012.
Tomie no CCJ, recordo-me de encontrar o espaço de
pernas para o ar... Equipe da manutenção arrumando algumas coisas no teto,
placas nos vidros da entrada dizendo sobre o funcionamento dos sanitários – no
dia anterior foi show na rua – e meu querido lugar, a biblioteca, com o seu
carrinho cheio de livros para guardar e com um cavalete e uma mesa bem na
entrada que me fizeram imaginar: que diabos aconteceu aqui durante essa minha
folga preciosa de quatro dias?
Não importa o
que aconteceu e sim que você está de volta!
Mato saudades de rostos conhecidos e corações
amigos... A minha volta vejo a roda do Tomie tomar forma, todavia, era uma roda
diferente. Talvez somente para mim, mas diferente. O registro do Alisson vem
parar em minhas mãos antes mesmo que seja lido para os outros e isso sem dúvida
foi importante na hora para mim... Ali estava a morte de um artista! No meio da
roda resistia um monstro invisível e indizível, no formato de envelopes alvos,
onde a proposta era, de escrever em seu interior o que nos incomodava na
formação e o que poderia ser feito para mudar.
Aquele monstro me encarava e eu incomodado com sua imagem,
penso numa forma de apagar sua presença... Não queria ser pedante em dizer o
que poderia ser mudado na formação e muito menos queria lamentar pelos os
encontros do Tomie, que muitas vezes não me satisfazem, melhor dizendo, não nos
satisfazem. Mesmo tendo essa convicção, o monstro continuava a me observar,
quando sem mais nem menos escuto palmas de “Parabéns pra você!” e vejo pessoas
vindo ao meu encontro. Como poderia? Meu aniversário não era aquele dia.
Confuso e feliz por ter pessoas que possam se lembrar desta data, resolvi me
entregar ao máximo a esse dia.
Programação
do dia: tudo o que não dera para ser feito na segunda anterior, o registro do
dia 27/08, mais a programação e encontro com gestores. Pamela, Sema e Éricka
apresentariam um pouco do que fizeram e fazem de suas incomparáveis vidas, logo
no período da manhã. Isso foi uma boa mudança e assim como tal, traz nova vida
e sentido, colocando em patamar elevado as vidas suas.
Começa a leitura do registro do
Alisson... Termina a leitura do registro do Alisson... Aplausos de decepção ou
incredulidade? O que eu sempre soube, no momento em que li um pedaço de seu
registro, que ele não estava ali. E por que haveria de estar? Criamos
estereótipos de pessoas e ações. Esperava-se um registro, irônico, fantástico,
engraçado e no final vemos um texto duro e claro. Tempos mais tarde ouviria uma
frase curiosa: “Não estamos prontos para ouvir!”.
Não
subestime nenhum registro, pois cada um traz em seu interior uma verdade
pessoal e uma verdade coletiva. Fecha os olhos, para um pouco e ouve o que os
rios tem a dizer.
Início das apresentações de percurso e Pamela em seus
longos 5 minutos nos apresenta o que tinha preparado apenas verbalmente e
consigo traz um caderno onde tinha desenhos e textos. Sem dificuldade nenhuma
senta no chão e relata sobre a sua formação acadêmica em moda, a luta
feminista, o fazer de suas próprias roupas... a palavra de ordem é “cisgênero”,
o aceitar ser mulher. Numa roda-viva de perguntas, como por exemplo, um livro
que te marcou e a história do nome, resoluta se faz nas respostas e levanta do
chão para ir ao nosso humilde e precioso lugar, a roda. Espero que essa futura
pedagoga possa encontrar o vão que existe entre Laboratório de Pesquisa e
Biblioteca, e consiga fazer uma ponte! Máquina e livros, como uni-los? Esse é
um desafio real e que a Pamela encontrará na difícil e sagrada arte de ensinar
outro ser humano a ler. Aplausos.
A
apresentação do Sema foi o que se pode dizer um tanto... me faltam adjetivos
para nomear tal “correria”. O que me chama a atenção é o salto mortal que ele
deu pela manhã para estar ali e sua apresentação, isso sim que é uma correria,
trouxe até as fotos de família ainda no porta-retratos... “Como começo isso?” –
que pergunta... Muitos começariam pelo o início – o nascimento. Porém, ele
começa com aquilo que forma o seu caráter.
Caráter: especificidade, cunho, marca. Qualidade
inerente a uma pessoa, animal ou coisa. Os traços psicológicos, as qualidades,
o modo de ser, sentir e agir de um indivíduo, um grupo, um povo. Gênio, humor.
Firmeza de atitudes.
De repente
alguém quebra a roda, vai até a recepção da biblioteca e pega o livro
Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, quem era mesmo? É claro, tinha que ser o garoto
que tem uma injeção de otimismo cravada na veia (como disse Bruno em seu
registro), Luiz Augusto. Por que você colocou aquele livro na roda e ainda mais
ao lado do monstro?
Filho de pai
comunista e ateu, o garoto que acredita que o mundo foi construído pelos
pedreiros... Ops! Brincadeiras à parte, Sema nos conta de sua ida a um estádio
de futebol pela primeira vez aos 3 anos de idade - No futebol, ele encontra o
norte de sua apresentação.
Clube de
Futebol Autônomos (o único time que não reza o Pai-Nosso antes de entrar em
jogo) e viagens com ele, como por exemplo, uma viagem para Bristol... O
punk-rock apresentados por sua mãe... o anarquismo e a casa Mafalda, são
desfiados e pelo o que eu sinto, o Amor
é a marca que une tudo o que esse garoto, esse jovem-monitor, esse eternamente
jovem, têm e se esforça tanto para manter de pé. Sema, você diz odiar as
pessoas e eu lhe digo que te amo e que será muito difícil te levar embora desta
vida! Sema, você é amante da vida! Você é a semente da nobre arte de ser você
mesmo! Você é um bichão! Aplausos.
Senti que o grupo se disperçava às
vezes, conversas aleatórias e olhares distantes permeavam a roda, até mesmo eu
estava incluso nesta. Vida por que medimos o tempo em minutos, horas, dias,
meses e anos? Por que não o medimos em momentos? Um bom momento eu diria, quase
que imperceptível aos olhos foi: o Willian empinando a cadeira para trás quase
cai, ou foi impressão minha? Morte, qual é o seu objetivo?
Dar
sentido à Vida!
Morte, como você é clichê! A
apresentação da Éricka chega, com uma pequena vislumbração minha: de que
Éricka, a última a entrar ano passado, seria a última a fechar o ciclo de
“correrias” deste ano... Que feito esse! Postergou tanto esse momento, e no
final descubro coisas que não saberia dela se não houvesse tido esse dia.
Teatro Mazzaropi, filme Domésticas (onde a nossa anfitriã não aparece), o
fanatismo pelo RPG, a adolescência rodeada por amigos e shows, sem dúvida são
momentos e não horas na vida da garota que trocou a área química pela
biológica. Onde a estamparia de camisetas (acredito, como hobby), as muitas
viagens e o verde das plantas são o seu repouso... Apresentação leve como a
fumaça de um cigarro e uma leve brisa de como a vida pode ser um eterno
cachimbo da paz... Aplausos.
O que fica
para mim, de todas as apresentações de percursos pessoais, é que existe no
mínimo uma centena de adjetivos para cada pessoa aqui. Não devemos julgar ninguém
pelo o que é na vida e nem muito menos pelo o que faz no escuro. E sim, pelo o
seu entregar a se conhecer, conhecer os outros e acima de todas as coisas o
emprego do Amor e a fé que depositamos em algo. Viver mais
forte!
Ângela não
procure pelo em ovo, porque um dia você pode encontrar...
Não há como negar que a Ângela me inspira a pensar...
Por que você
colocou o livro ao lado do monstro?
Pensando bem, fazemos muitas coisas que nem imaginamos
a consequência. O livro me puxava e pedia para ser colocado ao lado do monstro.
Talvez – e tenho certeza disso agora – inconscientemente eu queria ter um
lança-chamas e fazer como o bombeiro Montague do livro e destruir o monstro que
estava no meio de nós...
Quando damos
nomes a nossos fantasmas, eles assumem uma corporeidade e assim, são mais
fortes para nos derrubar. Vocês têm armas para enfrentar tal monstro
tomiohtakeano? Sendo quem sou, poderia apenas levá-lo para o outro lado. Mas
vocês são humanos, têm que encontrar uma forma de viver entre seus medos.
Espaço para formalizar o final deste ciclo de “correrias”
e a certeza de que não foi um tempo perdido. Com exatidão foram os cruzamentos
de histórias pessoais, com trabalhos, amizades, estudos, convicções que temos
nessa longa jornada. Frustrações existem aos montes, deveria ter dito isso...
feito aquilo... Porém, eu , Luiz Augusto, sei que fiz o melhor que podia na
hora de minha “correria”, afinal somos humanos e erramos.
O espaço é formado por nós, atualizamos ele
ou deixamos, conformados, estagnar-se.
Temos mais um nascimento: que poderia haver uma roda
de conversas sobre traumas escolares que passamos. Pareceu-me animar a todos,
mesmo até a mim, que felizmente não tenho traumas desta época. Homens! Não
deixemos isso morrer!
Uma tentativa
falha de divisão dos grupos de trabalho da programação, que acabou por se
tornar um grupão de trabalho. Tema: “Faça você mesmo!” – sub-tema: “Pobre de um
país que precisa de heróis”. Também houve o nascimento de mais dois grupos de
trabalho, o grupo 6 que ficaria responsável por atividades para crianças, e o
grupo 7 que ficaria responsável pela onírica fachada do CCJ.
O
Tomie virou lugar de ação, o pensar agindo está nestes novos tempos. Os
encontros de segunda-feira se tornaram reuniões de trabalho... O questionar
agora não é um perguntar filosófico, como por exemplo: “de onde viemos e para
onde vamos?” e sim “quanto custa?”, “quando pode ser a apresentação?”, “você
tem clipping?”, e por aí vai... É claro que existe todo um processo até esse
ponto, programar ações. Contudo, o que me incomoda é saber se tudo isso faz
parte do desejo do grupo ou de algumas pessoas dele? Seria um forçamento de
barra, como bem disse aquela garota esperta, Gisele, em sua Tentativa número
2 do registro?
Morte, existe vida depois da programação?
Almoço,
vamos?
Depois do almoço, o espaço Sarau se
encontra com cinco grandes mesas e com uma multidão de pessoas para lá e para
cá. Marília, Rodrigo, Fernanda, Andrea e Markito, cinco gestores responsáveis
por uma mesa cada. Para que grupo vou? Decido pelo o grupo 5, que Marília era a
gestora e que tinha a função de nos ajudar em como organizar, preparar e pensar
como faríamos a exposição do Sr. João; de como colocaríamos um
calendário-programação que ao mesmo tempo fosse interativo e informativo ao
público; e por último, a exposição de um grupo chamado “Fliperama” que tivera
no começo do ano uma visita monitorada ao CCJ.
Deus! Me ajude a descrever esse momento, por favor!
Estou aqui
para coisas mais simples e os seres humanos são muito complexos! Eles adoram
complicar tudo, e eu pergunto: “Para quê tanto desperdício de tempo?”.
O que posso
lhe auxiliar é dizer que após falar tanto de horários, pregos, madeiras, tintas
e contratações, Marília se mostrou muito atenciosa e prestativa, foi uma boa
reunião, não há como negar! Depois deste momento percebi que acabei por não me
tornar onipresente e onipotente, que perdera por exemplo, um detalhe: o monstro
invisível de papel alvo permanecia ali no centro, visível aos olhos, mas
escondido ao coração... Outros tantos grupos já não se encontravam mais no
espaço. Eles estavam agindo! Outros já tinham suas tarefas cumpridas e uns
outros começariam a colocar em prática durante a semana a ação.
Estou no meu limite Destino, podemos terminar?
Não. Iremos
forçar um pouco mais o cérebro.
Dia diverso. Um grande e apertado
círculo se forma e cada grupo fala sobre o que foi decidido... Willian quase
cai de novo da cadeira, todos percebem... Parece-me tudo bem!
Alma, por favor!
Um pouco
mais, calma!
Grupo
7 se reúne para discutir sobre a fachada: “Você sabe o que acontece aqui?” – em pichação ou
grafite? Contudo, temos que ter algo pronto para apresentar aos responsáveis e
eles do seu tribunal condenar ou não. Fico com a sensação de que não
terminou...
Amor, Morte, Vida – Amo-te até a morte Vida – Morro de
amor – Me ame enfim – Enterre-se em mim – me ame sim.
No dia 10 de Setembro de 2012, dia do
meu aniversário de 21 anos, sento-me de frente com duas figuras mitológicas,
que fascinam os homens pela sua natureza amplamente poderosa e desconhecida.
Diante do Ser tão diverso e poderoso que crio, a pergunta maior que nem eu, nem
ela pode ter a resposta me vem à cabeça...
Tomie, você sabe
o que acontece aqui na formação e no
CCJ e qual o seu sentido de existir?