sábado, 28 de abril de 2012

Registro Natame

Ao chegar no CCJ dou bom dia ao segurança e não encontro mais ninguém, estranho, não cheguei tão cedo assim. Depois de algum tempo alguém abre o silêncio, era o Luiz, que também compactuava com o meu sentimento de ausência, ausência dos monitores, do pessoal do Tomie e do lanche. Será que o encontro é aqui mesmo?
Tanto é, que de repente chegam todos, um atrás do outro, como se combinassem.

O tal sentimento volta a tona, ausência, agora pela voz da Angela. A ausência do Mau justificou-se pelas suas andanças e trabalhos, a ausência da Danuza, ninguém soube explicar, cadê aquele bom dia sempre alegre? Por fim, fala-se da ausência permanente de um companheiro, um cara que além de companheiro de trabalho tornou-se um amigo. Sinto sua ausência como o crescer de uma voz, mesmo distante.

Logo em seguida ouvimos o registro da Gisele, objetivo, conciso, simples, direto. Questiona-se sobre o ideal do grupo, a cara do grupo, e defende bravamente que todos devem ter 'fé na ideia', acho super importante essa colocação. Talvez essa seja a resposta para algumas das questões apresentadas no registro e pra diversos outros impasses.

Chega então a vez da Mari apresentar sua correria: fotografia. Começa contando seus vários percursos, me identifico. “Estar aqui é resultado dos seus percursos”, ela diz, acredito que não exista uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada pessoa viver. Mas um caminho tem, tem que ter, caminho não, percurso, e esse não precisa ser retilíneo, regrado ou imposto, o negócio é deixar a vida ser a doideira que é, deixando levar-se pelo que te contamina e move.

Ela fala de sua experiência no exterior, mostra sua série “respiradores” e pega um gancho de sua explicação sobre a série para dizer como gosta de trabalhar com o desconhecido, de se perder, me identifico de novo.

Seguimos com Queens, Parônimos, Reversos,  e tudo não passa de formas   para apresentar a realidade com os olhos da vertigem, olhar é interpretar.
Num súbito é questionada pelo Felipe: no meio de tanto trabalho pelo exterior, onde está o Brasil? Sinto nessa pergunta, mais uma vez, o sentimento de ausência fazer-se presente. Mas ah! Eis que surge um orelhão em forma de arara, aí está o Brasil.

Os produtores vão chegando, e começamos a ver o documentário Janela da Alma, já vi esse documentário umas três vezes e me pego pensando ainda nas mesmas questões:
1- vivemos num mundo que perdeu a visão, as pessoas estão cegas para o que realmente importa
2- não quero ver o mundo pela realidade que ele mostra
3- vivemos ainda na caverna de Platão?
4- o mundo esta fora de foco ou eu estaria?
5-Pequeno Principe tinha razão? o essencial é invisível aos olhos?
Infelizmente o projetor não nos deixou ver o documentário até o final e partimos para o famigerado almoço.

Na volta, é proposta uma atividade, trabalhar com as perspectivas do olhar. Devemos sair pelo entorno e tentar levantar alguma questão que envolva cultura, deve ser um ensaio fotografico de 6 imagens, sem discurso, sobre o entorno. São divididos grupos, e cada grupo deve ter um produtor, Ângela diz que o intuito de trazer os produtores para os encontros é o de integrar-los com os monitores e compartilhar experiências. Mas sinto, vejo, e não generalizo, que essa integração e essa troca de experiências é praticamente nula, alguns deles se mostram totalmente inacessíveis, e sinto novamente aquela sensação de ausência vinda de alguns pontos, ausência de espírito, de boa vontade, e uma dificuldade enorme de baixar a guarda.
Fomos pra rua, no meio da rua todo tipo de vida, difícil escolher o que fazer, sons se multiplicam, imagens se multiplicam e nos sentimos perdidos. Depois de muitas tentativas decidimos fotografar pessoas que, em meio a correria cotidiana, resolvem parar, afinal homem é pausa, vírgula, tem hora que não dá.

Voltamos e os trabalhos foram apresentados, fotos artísticas, conceituais, não! Entre um gole e outro de vida, percebe-se que você vive uma mentira. Quase nenhum comentário é feito sobre as fotos, será que elas falavam por si mesmas ou a proposta não nos atingiu como deveria?

Por fim, depois de algumas considerações, Angela pergunta: “Será que somos só produtos da cultura?” O silêncio toma conta como uma forma de proteção, pois qualquer coisa dita só agravaria o peso do momento com a densidade das palavras.
E para um encontro marcado por ausências, nada mais justo do que terminar assim, em silêncio. Mas sem desespero, afinal, todo encontro é um último, e o último é sempre marcado por um recomeço.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Registro Danuza Novaes segunda-feira dia 02/04/2012 no Tomie




Quando cheguei não havia começado, encontrei com o Dani quando estava vindo. Perguntei pra Natami, se havia dado tudo certo com o registro, um sorriso querendo espantar o nervoso tomou seu rosto. Não sei porque,  o registro foi sensacional, quem dera eu saber escrever dessa forma.
Quando ela começou a ler, a ausência de palavras foi que não faltou pra descrever a ausência daquele dia. Confesso,  fiquei feliz em saber que consigo encorajar com meu sorriso, faço isso de coração. Não houve muitos comentários sobre o relato dela, ausência... (risos) acho que a Mariana queria justificar algo, se sentiu incomodada e o Felipe que já havia lido, eita ansiedade, não sabe brincar...

“Os livros criam novas amizades e formam laços de companheirismo até com quem não conhecemos. O poder da palavra escrita é imenso. As reverberações de empatia e de sentimentos compartilhados que ela desperta podem transcender fronteiras nacionais e derrubar as muralhas das diferenças ideológicas e étnicas — de fato, a palavra escrita pode transpor o abismo que separa culturas e até mesmo o tempo” (Terceira Civilização, edição no 406, 10 de junho de 2002, p.8).
Coincidência? Não, prefiro sempre optar por sintonia. Antes de chegar no Tomie, estava lendo meu jornal budista e havia um caderno especial com titulo  ”o poder das palavras”, nem havia me lembrado da programação do dia, e quando a Ângela apresentou sua correria, essa frase me  veio a mente.
Pra mim  não foi cansativo, gostei da Bilioteca de Emergência, da proposta da Lavanderia Editora, o carrinho de mão,  e de muitas outras coisas que ela apresentou naquele dia.  Gosto da frase “o fim do cem, fim“ me lembra Marcelino Freire. Gosto também da idéia de transformar a realidade com as palavras. Na verdade, tudo que tem potência  e reverbera vem da paixão.

Logo em seguida, fomos para experiências práticas, de ouvir,  e de ler para o outro. Eu me permiti ser experimentada por essa sensação, e gostei. Não reparei muito nos outros, entrei na proposta, interiorizei a proposta, ou seja, viajei, risos.

Pausa. Pausa para a  roda da comida, o lanche veio depois mas veio bem farto! Tinha um biscoito muito bom, acho que o Willian sabe o do que era, não consigo me lembrar...
Continuamos a roda mas agora era para repetir a leitura fragmentada. Não me lembro do texto, eu  brinquei de ler, a maioria ali, gostou de brincar com o texto também. A linguagem falou mais que o conteúdo. Perigoso.
Último exercício antes do almoço e não menos importante, os papéis azul e branco. A proposta era: individualmente cada um escolher um lugar que está morto, e escrever uma história extraordinária que viveu. Em grupo escolher uma das histórias, e inserir um elemento fantástico nela para depois, a gente descobrir de quem era a história.
 Bem legal, né!
Pensei muito sobre esse exercício e na verdade, a gente tem tantas histórias extraordinárias....o que acontece é que não a vemos assim, transformamos tudo em rotina,  prosaico. Somos condicionados a não imaginar, a perder a fantasia de viver a vida. Tudo nesse exercício inspirou meu lado artístico, quero compor uma canção com a história da pulga, um coco, será que as meninas topam?

Almoço, nossa! Virei The Flash, fiquei com medo de não pegar meu salário mas deu tudo certo, enfim... cheguei uns minutos atrasada e já estava rolando o vídeo do “Caçador de tufões“,  demorou um pouco para minha mente retomar ao grupo, mas voltou. Voltou quando vi o Thauam. Com certeza ele não vai só e não nos deixará só, as pessoas quando vivem de verdade, marcam. Sei muito pouco de política, pouco de tudo mas sinto mais do que sei, e sentir torna muito mais as nossas falas verdadeiras, o Thauam está provando que não vive só de discurso, espero vê-lo vivendo de verdade mais e mais!
Finalizando essa impressão sobre o dia, tivemos o último exercício que era retratar a cultura do bairro em vídeo.  Vários contratempos técnicos, cumprimos o combinado e mesmo saindo bem diferente da proposta inicial de cada grupo, houve um olhar otimista para todos eles. Não tivemos muito tempo para falar sobre o que fizemos, mas isso pra mim foi bom.
Senti satisfação em viver o dia 02/04/2012.
Se for pra resumir em uma frase, resumiria em, riqueza de espírito nos faz mais distante de sermos levados a seguir meramente o fluxo do que dizem ser o natural o da vida.
Fim?!

Relato-falas Tomie Ohtake, 12/03/2012. Por Willian Emerson


Vo tentar falar toda a minha impressão sobre o dia sem dar pausa no gravador não importa o que acontecer aqui ao meu redor, então se preparem... pronto?... Era uma vez no tommie... cheguei mais ou menos por volta das 10 e 10 por causa do transito horrível dessa cidade super lotada. Começamos por volta das 10 e 20 e ouvimos o relato da mari. Ela jogou frases no chão como se fossem slides com perguntas que nos indagavam questões do dia da oficina do Fred. Com muita objetividade acho que foi o relato que eu mais entendi até agora... já tava esperando alguém chegar com uma performance muito loka...

Entre muitas coisas que ela disse, me marcou uma pergunta: qual é o nosso ideal? Acho que acabei fazendo esse relato com base nela... precisamos ter um ideal ou será que podemos nos unir só por nossos laços de amizade?

Seguimos para a discussão sobre as palavras que ouvimos. O objetivo que nos coloca é que poderemos saber o que foi ultimo dia no tommie, mas o máximo que conseguiremos é enxergar o dia pela visão de cada um. Se você ouve é porque eu falo. Por alguns motivos a parte eu não consegui parar de pensar antes da discussão no grau de liberdade que temos para nos expressar aqui dentro. Uma anotação, uma lista, uma tabela... Será que existe um big brother?

Da discussão pude perceber o quanto é difícil conseguirmos expressar nossos sentimentos através da linguagem escrita. Unir pensamento ao sentimento. Deve ser por isso que não há respostas para todas as perguntas. A realidade não está na história, mas em quem a escreve. A realidade está na cabeça de cada um.

É importante notar o quanto o grupo pode ser instintivamente opressor, e que apesar de ser formado pelas histórias de cada um, tem suas próprias raízes. Cada um traz consigo experiências e vivências que se unem e formam nossa instituição... ou pra não deixar o thauan triste, nosso partido de idéias... Não é de se surpreender que a principal arma das ditaduras tenha sido proibir o povo de se reunir.

Senti um pouco de angústia durante um momento da conversa. Quando cada pessoa começava a falar eu pensava o que muitos outros, lá fora, teriam a dizer. Infelizmente, a roda do Tommie não gira para todos. Imagina se girasse? É bem provável que o trabalho, as instituições, as idéias, o mundo mudaria... se pá até o nosso vale refeição aumentaria.

Seguimos para a explicação da oficina do dia. Devemos ir além do que é esperado e propor intervenções, não vai ser difícil já que tentamos criar algo novo desde que entramos. Isso me lembra que o ritmo do grupo não pode ser seguido por uma pessoa externa ao mesmo. Acho que a autoridade do grupo deveria ser predominante, mas eu nem sei se estamos preparados para isso. No final, todos arrumaram a sala, talvez isso seja um indicativo para responder a essa questão. Fazer o que não gostamos é o pior desemprego que existe. EU NÃO PENSO IMAGINO E FAÇO.

Nas discussões eu estava com bastante sono, acho que não contribui o quanto deveria. A Jô, a Mari e a Ângela também estão planejando, isso talvez demonstre que elas não se enxerguem como uma autoridade dentro de uma estrutura verticalizada. Isso é bom.

Como mudar um espaço com tantas barreiras? Ao meu ver a biblioteca é o espaço com maior afastamento dos usuários. Existem vidros que te impedem de entrar por onde quer, há detectores que nem te conhecem, mas já te julgam, há monitores que podem te enxergar como um intruso.
Pausa pro almoço. Ao voltar fomos recebidos pelas correrias do Maurício. Arqueologia e cultura. Interessante reflexão sobre a definição de patrimônio e a predominância de algumas formas de pensamentos cientificos. A atitude daquelas crianças em brincar com artefatos históricos demonstra pra mim uma forma de cultura mais significativa do que qualquer resquício com milhares de anos. Naverdade, duvido que os antigos não ficassem orgulhosos ao ver que suas criações ainda detém uma função depois de 3 mil anos.

O trabalho do Mau reflete a necessidade de atribuirmos novas funções aos espaços e objetos conforme a mudança de contexto econômico, político e social. Fazemos isso inconscientemente....
O que temos culturalmente independe de comprovação.
Voltando as discussões, tivemos muitas idéias para intervenções, mas acabamos restringindo a uma só. Paramos para um café.

Senhoras brancas, com roupas claras e cabelos cinzas estão em oficina nas salas ao lado. Pessoas que provavelmente não seriam minhas vizinhas, nem companheiras de ônibus lotado. Considerando que não sei nada sobre elas, pode ser que minha fala só reflita um preconceito latente. Mas isso merece uma reflexão em virtude da elitização que já vi ser criada em espaços de cultura inseridos próximos do centro econômico de São Paulo. Porque concreto pintado ainda é só concreto.
Voltamos a oficina. Mais discussões. Abrimos para a partilha de informações. Diferente do primeiro dia no Tommie, não sentia mais vergonha de ter que me expressar. Pelo contrário, me senti acolhido. (palavras jogadas) Jogo, corpo, vídeos, política, sono.... (palavras jogadas) Um após o outro finalizamos as falas partilhando o que decidimos nos pequenos grupos. Mas como ficou nosso povo? Tem a mesma vida dos bacana, mas não tem quase nada. Então faz assim: fecha os olhos. Para um poco. E, ouve o que os rios tem pra dizê...