sábado, 15 de setembro de 2012

Registro do Dia 03 de Setembro de 2012 - Luiz Augusto


São Paulo, 03 de Setembro de 2012.
São Paulo, 10 de Setembro de 2012.

Crônica de Morte e Vida

O dia está azul e quente e sorri de forma singular para ti meu caro. Sua luta mal começou, porém o que você mais desejava está contigo novamente: a sua fé na vida. Que nela você encontre os seus próprios caminhos e descubra o quão bom é viver!

Queria lhe dizer senhora que tenho muitas perguntas para você, contudo o meu chamado por ti foi, para antes de tudo, que me ajude a elucidar o que aconteceu na segunda do dia 3 de Setembro de 2012.
Tomie no CCJ, recordo-me de encontrar o espaço de pernas para o ar... Equipe da manutenção arrumando algumas coisas no teto, placas nos vidros da entrada dizendo sobre o funcionamento dos sanitários – no dia anterior foi show na rua – e meu querido lugar, a biblioteca, com o seu carrinho cheio de livros para guardar e com um cavalete e uma mesa bem na entrada que me fizeram imaginar: que diabos aconteceu aqui durante essa minha folga preciosa de quatro dias?

Não importa o que aconteceu e sim que você está de volta!

Mato saudades de rostos conhecidos e corações amigos... A minha volta vejo a roda do Tomie tomar forma, todavia, era uma roda diferente. Talvez somente para mim, mas diferente. O registro do Alisson vem parar em minhas mãos antes mesmo que seja lido para os outros e isso sem dúvida foi importante na hora para mim... Ali estava a morte de um artista! No meio da roda resistia um monstro invisível e indizível, no formato de envelopes alvos, onde a proposta era, de escrever em seu interior o que nos incomodava na formação e o que poderia ser feito para mudar.
Aquele monstro me encarava e eu incomodado com sua imagem, penso numa forma de apagar sua presença... Não queria ser pedante em dizer o que poderia ser mudado na formação e muito menos queria lamentar pelos os encontros do Tomie, que muitas vezes não me satisfazem, melhor dizendo, não nos satisfazem. Mesmo tendo essa convicção, o monstro continuava a me observar, quando sem mais nem menos escuto palmas de “Parabéns pra você!” e vejo pessoas vindo ao meu encontro. Como poderia? Meu aniversário não era aquele dia. Confuso e feliz por ter pessoas que possam se lembrar desta data, resolvi me entregar ao máximo a esse dia.

Programação do dia: tudo o que não dera para ser feito na segunda anterior, o registro do dia 27/08, mais a programação e encontro com gestores. Pamela, Sema e Éricka apresentariam um pouco do que fizeram e fazem de suas incomparáveis vidas, logo no período da manhã. Isso foi uma boa mudança e assim como tal, traz nova vida e sentido, colocando em patamar elevado as vidas suas.

         Começa a leitura do registro do Alisson... Termina a leitura do registro do Alisson... Aplausos de decepção ou incredulidade? O que eu sempre soube, no momento em que li um pedaço de seu registro, que ele não estava ali. E por que haveria de estar? Criamos estereótipos de pessoas e ações. Esperava-se um registro, irônico, fantástico, engraçado e no final vemos um texto duro e claro. Tempos mais tarde ouviria uma frase curiosa: “Não estamos prontos para ouvir!”.

         Não subestime nenhum registro, pois cada um traz em seu interior uma verdade pessoal e uma verdade coletiva. Fecha os olhos, para um pouco e ouve o que os rios tem a dizer.

Início das apresentações de percurso e Pamela em seus longos 5 minutos nos apresenta o que tinha preparado apenas verbalmente e consigo traz um caderno onde tinha desenhos e textos. Sem dificuldade nenhuma senta no chão e relata sobre a sua formação acadêmica em moda, a luta feminista, o fazer de suas próprias roupas... a palavra de ordem é “cisgênero”, o aceitar ser mulher. Numa roda-viva de perguntas, como por exemplo, um livro que te marcou e a história do nome, resoluta se faz nas respostas e levanta do chão para ir ao nosso humilde e precioso lugar, a roda. Espero que essa futura pedagoga possa encontrar o vão que existe entre Laboratório de Pesquisa e Biblioteca, e consiga fazer uma ponte! Máquina e livros, como uni-los? Esse é um desafio real e que a Pamela encontrará na difícil e sagrada arte de ensinar outro ser humano a ler. Aplausos.

A apresentação do Sema foi o que se pode dizer um tanto... me faltam adjetivos para nomear tal “correria”. O que me chama a atenção é o salto mortal que ele deu pela manhã para estar ali e sua apresentação, isso sim que é uma correria, trouxe até as fotos de família ainda no porta-retratos... “Como começo isso?” – que pergunta... Muitos começariam pelo o início – o nascimento. Porém, ele começa com aquilo que forma o seu caráter.

Caráter: especificidade, cunho, marca. Qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa. Os traços psicológicos, as qualidades, o modo de ser, sentir e agir de um indivíduo, um grupo, um povo. Gênio, humor. Firmeza de atitudes.

De repente alguém quebra a roda, vai até a recepção da biblioteca e pega o livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, quem era mesmo? É claro, tinha que ser o garoto que tem uma injeção de otimismo cravada na veia (como disse Bruno em seu registro), Luiz Augusto. Por que você colocou aquele livro na roda e ainda mais ao lado do monstro?
Filho de pai comunista e ateu, o garoto que acredita que o mundo foi construído pelos pedreiros... Ops! Brincadeiras à parte, Sema nos conta de sua ida a um estádio de futebol pela primeira vez aos 3 anos de idade - No futebol, ele encontra o norte de sua apresentação.
Clube de Futebol Autônomos (o único time que não reza o Pai-Nosso antes de entrar em jogo) e viagens com ele, como por exemplo, uma viagem para Bristol... O punk-rock apresentados por sua mãe... o anarquismo e a casa Mafalda, são desfiados e pelo o que eu sinto, o  Amor é a marca que une tudo o que esse garoto, esse jovem-monitor, esse eternamente jovem, têm e se esforça tanto para manter de pé. Sema, você diz odiar as pessoas e eu lhe digo que te amo e que será muito difícil te levar embora desta vida! Sema, você é amante da vida! Você é a semente da nobre arte de ser você mesmo! Você é um bichão! Aplausos.

         Senti que o grupo se disperçava às vezes, conversas aleatórias e olhares distantes permeavam a roda, até mesmo eu estava incluso nesta. Vida por que medimos o tempo em minutos, horas, dias, meses e anos? Por que não o medimos em momentos? Um bom momento eu diria, quase que imperceptível aos olhos foi: o Willian empinando a cadeira para trás quase cai, ou foi impressão minha? Morte, qual é o seu objetivo?

         Dar sentido à Vida!

         Morte, como você é clichê! A apresentação da Éricka chega, com uma pequena vislumbração minha: de que Éricka, a última a entrar ano passado, seria a última a fechar o ciclo de “correrias” deste ano... Que feito esse! Postergou tanto esse momento, e no final descubro coisas que não saberia dela se não houvesse tido esse dia. Teatro Mazzaropi, filme Domésticas (onde a nossa anfitriã não aparece), o fanatismo pelo RPG, a adolescência rodeada por amigos e shows, sem dúvida são momentos e não horas na vida da garota que trocou a área química pela biológica. Onde a estamparia de camisetas (acredito, como hobby), as muitas viagens e o verde das plantas são o seu repouso... Apresentação leve como a fumaça de um cigarro e uma leve brisa de como a vida pode ser um eterno cachimbo da paz... Aplausos.


O que fica para mim, de todas as apresentações de percursos pessoais, é que existe no mínimo uma centena de adjetivos para cada pessoa aqui. Não devemos julgar ninguém pelo o que é na vida e nem muito menos pelo o que faz no escuro. E sim, pelo o seu entregar a se conhecer, conhecer os outros e acima de todas as coisas o emprego do Amor e a fé que depositamos em algo. Viver mais forte!
Ângela não procure pelo em ovo, porque um dia você pode encontrar...

Não há como negar que a Ângela me inspira a pensar...

Por que você colocou o livro ao lado do monstro?

Pensando bem, fazemos muitas coisas que nem imaginamos a consequência. O livro me puxava e pedia para ser colocado ao lado do monstro. Talvez – e tenho certeza disso agora – inconscientemente eu queria ter um lança-chamas e fazer como o bombeiro Montague do livro e destruir o monstro que estava no meio de nós...

Quando damos nomes a nossos fantasmas, eles assumem uma corporeidade e assim, são mais fortes para nos derrubar. Vocês têm armas para enfrentar tal monstro tomiohtakeano? Sendo quem sou, poderia apenas levá-lo para o outro lado. Mas vocês são humanos, têm que encontrar uma forma de viver entre seus medos.

Espaço para formalizar o final deste ciclo de “correrias” e a certeza de que não foi um tempo perdido. Com exatidão foram os cruzamentos de histórias pessoais, com trabalhos, amizades, estudos, convicções que temos nessa longa jornada. Frustrações existem aos montes, deveria ter dito isso... feito aquilo... Porém, eu , Luiz Augusto, sei que fiz o melhor que podia na hora de minha “correria”, afinal somos humanos e erramos.

       O espaço é formado por nós, atualizamos ele ou deixamos, conformados, estagnar-se.

Temos mais um nascimento: que poderia haver uma roda de conversas sobre traumas escolares que passamos. Pareceu-me animar a todos, mesmo até a mim, que felizmente não tenho traumas desta época. Homens! Não deixemos isso morrer!

Uma tentativa falha de divisão dos grupos de trabalho da programação, que acabou por se tornar um grupão de trabalho. Tema: “Faça você mesmo!” – sub-tema: “Pobre de um país que precisa de heróis”. Também houve o nascimento de mais dois grupos de trabalho, o grupo 6 que ficaria responsável por atividades para crianças, e o grupo 7 que ficaria responsável pela onírica fachada do CCJ.
         O Tomie virou lugar de ação, o pensar agindo está nestes novos tempos. Os encontros de segunda-feira se tornaram reuniões de trabalho... O questionar agora não é um perguntar filosófico, como por exemplo: “de onde viemos e para onde vamos?” e sim “quanto custa?”, “quando pode ser a apresentação?”, “você tem clipping?”, e por aí vai... É claro que existe todo um processo até esse ponto, programar ações. Contudo, o que me incomoda é saber se tudo isso faz parte do desejo do grupo ou de algumas pessoas dele? Seria um forçamento de barra, como bem disse aquela garota esperta, Gisele, em sua Tentativa número 2 do registro?

        
Morte, existe vida depois da programação?

         Almoço, vamos?

         Depois do almoço, o espaço Sarau se encontra com cinco grandes mesas e com uma multidão de pessoas para lá e para cá. Marília, Rodrigo, Fernanda, Andrea e Markito, cinco gestores responsáveis por uma mesa cada. Para que grupo vou? Decido pelo o grupo 5, que Marília era a gestora e que tinha a função de nos ajudar em como organizar, preparar e pensar como faríamos a exposição do Sr. João; de como colocaríamos um calendário-programação que ao mesmo tempo fosse interativo e informativo ao público; e por último, a exposição de um grupo chamado “Fliperama” que tivera no começo do ano uma visita monitorada ao CCJ.
Deus! Me ajude a descrever esse momento, por favor!

Estou aqui para coisas mais simples e os seres humanos são muito complexos! Eles adoram complicar tudo, e eu pergunto: “Para quê tanto desperdício de tempo?”.
O que posso lhe auxiliar é dizer que após falar tanto de horários, pregos, madeiras, tintas e contratações, Marília se mostrou muito atenciosa e prestativa, foi uma boa reunião, não há como negar! Depois deste momento percebi que acabei por não me tornar onipresente e onipotente, que perdera por exemplo, um detalhe: o monstro invisível de papel alvo permanecia ali no centro, visível aos olhos, mas escondido ao coração... Outros tantos grupos já não se encontravam mais no espaço. Eles estavam agindo! Outros já tinham suas tarefas cumpridas e uns outros começariam a colocar em prática durante a semana a ação.

Estou no meu limite Destino, podemos terminar?

Não. Iremos forçar um pouco mais o cérebro.

Dia diverso. Um grande e apertado círculo se forma e cada grupo fala sobre o que foi decidido... Willian quase cai de novo da cadeira, todos percebem... Parece-me tudo bem!

Alma, por favor!

Um pouco mais, calma!
         Grupo 7 se reúne para discutir sobre a fachada: “Você sabe o que acontece aqui?” em pichação ou grafite? Contudo, temos que ter algo pronto para apresentar aos responsáveis e eles do seu tribunal condenar ou não. Fico com a sensação de que não terminou...


Amor, Morte, Vida – Amo-te até a morte Vida – Morro de amor – Me ame enfim – Enterre-se em mim – me ame sim.
         No dia 10 de Setembro de 2012, dia do meu aniversário de 21 anos, sento-me de frente com duas figuras mitológicas, que fascinam os homens pela sua natureza amplamente poderosa e desconhecida. Diante do Ser tão diverso e poderoso que crio, a pergunta maior que nem eu, nem ela pode ter a resposta me vem à cabeça...


Tomie, você sabe o que acontece aqui na formação e no CCJ e qual o seu sentido de existir?

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