domingo, 26 de fevereiro de 2012

Registro do dia 06 de fevereiro de 2012 - Angela


Iniciamos o primeiro dia de formação às segundas-feiras e me parece que ninguém tinha dúvidas sobre a importância deste momento. Começamos às 10h15, em roda, com a leitura de um trecho do livro: “O começo de um livro é precioso” de Maria Gabriela LLansol, poeta portuguesa que dedicou sua vida a escrever e diminuir as barreiras entre o dentro e o fora, o pensamento e o sentimento, a filosofia e a arte, o cotidiano e o absurdo. Lemos com a voz de Danuza e, após a leitura, a Mariana nos trouxe um comentário precioso: hoje começamos e, a cada entrega e a cada novo movimento podemos iniciar novamente. Rapidamente a imagem do começo nos remeteu a nós mesmos. O que teremos pela frente? Quem somos neste conjunto? Aprenderemos? Lutaremos? Disputaremos ideias? Nos fortaleceremos? Nos enfraqueceremos? Nos aproximaremos? Nos distanciaremos? A quem caberá tal resposta?
Apresento o dia com a programação das propostas e tarefas e partimos para a primeira delas: a apresentação da história do nome de cada um, seguida da história da sua relação com um livro que mais te marcou. Rapidamente todos começaram a trazer suas mais diferentes histórias como mudanças de nomes, raízes africanas, indígenas, trocas de nomes, influências da tv, etc... além dos nomes, pudemos nos conhecer também o livro de cada um, deus modos de leitura, o tipo de interesse, um posicionamento do mundo. Em alguns momentos eu me vejo completamente mergulhada na história de cada um, em outro, me vejo olhando para o grupo como um todo e me pergunto: E agora, o que faremos com estas histórias? Como será a nossa relação depois disso? Como cuidar da história de cada um? Não, estas perguntas não são somente minhas, devem ser respondidas por todos nós....
E aí, estamos prontos para cuidar da história de cada um? Fazê-las cruzarem-se? Enriquecerem-se?
Ah, temos a presença da Stela  Barbieri (diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake)  e do Ricardo Ohtake (diretor geral do Tomie). Eles também participam da apresentação geral. Fica-nos claro que este grupo não está solto no mundo: há muitas forças, pessoas, instituições e experiências junto conosco. Ricardo e Stela trouxeram suas boas vindas, a acolhida da instituição e o envolvimento neste projeto. Este já é o quarto ano de trabalho e não escondemos a energia de criação envolvida nele. Aprendemos muito e ainda aprendemos.
Há um clima de escuta, abertura, interesse e libido entre todos. Ouvimos duas vezes o comentário: a cara do grupo é muito boa!  E qual será esta cara do grupo que eles se referiram e que nós sorrimos, dando a entender de que sabemos do que eles estavam falando? Que cara é essa que formamos quando estamos juntos? Ou melhor, que cara estamos a criar para este grupo, para nós mesmos?
Fico aqui pensando: quais os instrumentos, as ferramentas para se criar um grupo, para pisarmos no mesmo solo? Pois, já que este é o meu dia de registro e que o tema da formação de grupo é justamente hoje, eu começo a me posicionar:  Em que chão eu quero pisar? O que eu desejo do grupo?  - quero compartilhar cultura, produzir junto cultura, criar pensamento, sentir-me viva, em diálogo. Não quero ser direcional, não quero vestir nenhuma máscara ou persona. Não quero ser cínica nem representar. Não quero saber mais, quero tocar em tudo o que não sei, quero que conversemos de fato. Quero estar presente com o corpo e com o espírito. Por favor, me avisem quando o corpo de vocês começarem a gritar. Que tenhamos coragem de apontar a incoerência de cada um.
Trocamos os livros, ficamos com uma parte do outro. A folha azul tinha agora outro sentido. Uma responsabilidade.
À tarde, lemos o documento com algumas regras e calendário geral. Sentimos sono, trocamos algumas perguntas. Tive a ligeira sensação de que estávamos nos perdendo em generalidades, até que o sentido apareceu novamente: a Thamata nos trouxe uma situação problema e a fala voltou a circular. Acredito que discutir a rotina de trabalho do CCJ a partir da leitura da realidade vai nos fortalecer muito enquanto seres críticos, que não tem receio de perguntar-se sobre as verdades estabelecidas...
Fomos para a outra sala e a dinâmica foi diferente. A proposta era ler cada instituição envolvida no projeto a partir de seus materiais publicados. Ou seja: como a instituição se apresenta e o que eu leio desta apresentação?  Eram três mesas, três pequenos grupos, três instituições: Instituto Tomie Ohtake, Programa Jovem Monitor e Centro Cultural da Juventude. Foi possível perceber que alguns conversavam horizontalmente, outros unilateralmente. Mas a conversa se manifestou em todos os cantos.
 Partilhamos algumas observações e inquietações: a relação entre arte e educação. Porque em algumas instituições esta parceria está mais clara e em outras não? O espaço interfere na criação e formação de público? As instituições buscam seu entorno, quem tem acesso à cultura, a formação de público deve ser igual em todas as instituições, há um modelo, como lidar com a elitização da cultura, escutar o público, diminuir a distância entre a programação e o púbico, lidar com diferentes públicos, hierarquias, burocracias, etc...
As questões trazidas eram de uma leitura intensamente crítica, não superficial, de quem experimenta na pele estas questões. Foi empolgante tomar contato com estas perguntas já no primeiro dia. Acho que temos muito trabalho pela frente.
Anotamos as falas e este material produzido pelo grupo irá nortear as nossas próximas ações de reflexão acerca das instituições. O dia terminou com o horário cravado e a sensação de que começamos a nos conhecer e a criar uma cara de grupo. Ou seja, cara de quem está junto e não quer desperdiçar o tempo.



-Situação problema:
Quando estamos conversando sobre alguma questão muito instigante no grupo e eu acredito ter uma resposta melhor que a do outro, ou seja, julgo estar mais perto de alguma experiência ou de alguma “verdade”, qual a melhor maneira de trazer isso para todos:
-falar assim que tiver oportunidade, para resolver logo a questão e passar para outro assunto,
-ficar em silêncio e escutar o que os outros têm a dizer também sobre o assunto,
-escutar o que o outro tem a dizer e trazer minha experiência e a partir daí estar aberta a me reposicionar diante desta questão



 












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